Para Olgamir Amancia, estudo reafirmar comportamento machista da sociedade
A secretária da Mulher do DF, Olgamir Amancia, comentou o estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que mostra a percepção das pessoas sobre comportamento e violência relacionadas às mulheres. Os dados revelaram que quase três quintos dos entrevistados, 58%, responderam que “se as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros”.
Para a secretária, isso mostra intolerância e até a incitação ao estupro, buscando-se justificar o crime e culpabilizar a vítima. “Chama a atenção o fato que, diante do crime praticado, volta-se à preocupação mais para o comportamento da vítima, para a roupa que ela estava usando do que para o comportamento do agressor. Há uma absoluta inversão de valores”, contrapõe Olgamir.
Olgamir lembra que a cultura permeia todos os espaços sejam eles públicos ou privados, de forma que a mulher torna-se vulnerável independentemente do ambiente onde está apenas pelo fato de ser mulher. “Ano passado, a Secretaria de Segurança Pública divulgou que mais de 80% dos estupros ocorrem dentro da casa da vítima ou do agressor. Ou seja, o não reconhecimento da mulher como um ser social, histórico, e o destaque à dimensão sexual faz com que ela seja subjugada dentro ou fora de casa”, analisa a secretária.
Outro dado que chama a atenção na pesquisa do Ipea é que 27% das pessoas concordam que a mulher deve satisfazer os desejos do marido mesmo que este não seja o seu desejo. “Este tipo de comportamento foi tipificado pela Lei Maria da Penha como crime; o problema é que ainda hoje muitas mulheres desconhecem esta informação e continuam cultivando as informações inculcadas desde a infância que as levam a acreditar que esta é uma 'tarefa própria da mulher' e, por isso, tem que se submeter”, afirma Olgamir Amancia.
Os dados apresentados na pesquisa permitem pressupor um alto grau de intolerância da sociedade brasileira à violência contra a mulher, mas ainda restringe esta ação ao espaço privado. Quando a questão é se “casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre os membros da família”, 63% concordaram, total ou parcialmente. Da mesma forma, 89% dos entrevistados concordaram que “a roupa suja deve ser lavada em casa”; e 82% que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, ou seja mesmo se contrapondo a violência doméstica não a reconhecem como uma questão pública que deve ser enfrentada pela sociedade.
No entanto, 91% dos brasileiros defendem, totalmente ou parcialmente, a prisão para homens que batem em suas companheiras. A tendência em concordar com punição severa para a violência contra a mulher ultrapassa as fronteiras sociais, com pouca variação segundo região, sexo, raça, idade, religião, renda, ou educação: “78% dos 3.810 entrevistados concordaram totalmente com a prisão para maridos que batem em suas esposas”, afirma o documento.
“Os dados da pesquisa confirmam que a cultura patriarcal afeta tanto homens quanto mulheres; define comportamentos e modos de vida; e que nessa esteira, a mulher sempre é colocada em situação assimétrica em relação ao homem, uma condição que favorece o masculino em detrimento do feminino”, finaliza a secretária Olgamir Amancia.